Seja Bem Vindo!

Que DEUS no exercício de Sua Infinita misericórdia possa falar ao seu coração de maneira
especial através das mensagens que você lerá neste espaço.

Meu desejo é que você seja ricamente abençoado com Palavras de Alegria,
Unção, Poder, Incentivo e Fé...

Que haja sempre a Presença de DEUS em sua vida!!!

terça-feira, 5 de outubro de 2010

A ECO-TEOLOGIA E A ECOLOGIA
Pr. Renato Alves Neves
Possivelmente influenciado por esta “onda verde” que recebe uma atenção especial neste nosso período eleitoral/2010, gostaria de compartilhar uma breve reflexão sobre o assunto e apresentar uma gama de versículos que de certa forma, orienta-nos a ter uma atitude de preservação digamos, ecologicamente correta da natureza.
Considero não ser um erro afirmar que O pensamento ecológico esta muito próximo do pensamento cristão de harmonia, do ponto de vista, espiritual, físico e emocional, proporcionando um ambiente de irmandade, de relacionamentos saudáveis e amistosos e é possível ver toda a existência na Terra como uma teia interligada e interdependente. Tanto ecólogos quanto cristãos devem estar preocupados com uma vida digna para si e para seus semelhantes.
O pensamento ecológico prevê um mundo em paz, com uma justa divisão de oportunidades e de acesso aos recursos ambientais, prevê o fim da miséria. A Convenção da Biodiversidade reconhece que os países industrializados auferiram as vantagens de apropriar os recursos ambientais dos países pobres, e que agora é preciso mecanismos para reverter o quadro e elevar a participação dos países pobres na divisão.
Os principais documentos que representam o pensamento ecológico, a Carta da Terra, a Agenda 21, a Convenção da Biodiversidade e o Protocolo de Kioto (além de inúmeros outros acordos internacionais) são baseados nos mesmos princípios – de que não podemos agora degradar o meio ambiente comprometendo a qualidade de vida (ou mesmo a sobrevivência) das gerações futuras.
Também está prevista a estabilização do tamanho da população no Planeta, de forma a equilibrar o uso dos recursos naturais e a preservação do ambiente.
Chamo a sua atenção para pontuar inicialmente que qualquer discussão cristã sobre ecologia deve ser o conceito bíblico de DEUS como Criador. De acordo com Gênesis 1, o universo como um todo, e em especial a terra, agraciada com o maravilhoso dom da vida, é obra das sábias e poderosas mãos de DEUS (ver Sl 136.3-9; Pv 8.22-31). A natureza, em toda a sua complexidade e beleza, testifica sobre a grandeza e a bondade do Criador (Dt 33.13-16; Sl 104.10-24,27-30).
São muitas as passagens bíblicas, algumas de grande sensibilidade poética, que visam disciplinar, orientar como devemos nos comportar a respeito e admiração pelos encantos do mundo natural (Jó 40.15-19; Sl 65.9-13; 147.7-9,15-18; 148.1-10; Ct 2.11-13; At 14.17).
Com Jesus também vemos em seus ensinos, muitas referências à natureza para exemplificar o cuidado providente de DEUS (Mt 6.26,28; 13.31-32; Lc 12.6). Nos anúncios proféticos do novo tempo que DEUS irá criar as referências ao mundo natural ocupam um lugar de grande destaque (Is 11.6-8; Ez 47.7,12; Ap 22.1-2).
Ainda que DEUS tenha feito o ser humano como o coroamento da sua obra criadora, ele não lhe conferiu o direito de abusar da terra e de seus recursos. Fica implícita em toda a Escritura a responsabilidade humana de cuidar e guardar do “Jardim do Senhor” (Gn 2.15). O conceito de mordomia se aplica de modo especial nessa área – a terra e suas riquezas pertencem a DEUS, que as confia ao homem para que as administre com cuidado e sabedoria. O pecado humano gerou alienação em relação a DEUS e à natureza. Por isso agora a criação “geme e suporta angústias” até que seja “redimida do cativeiro da corrupção” (Rm 8.21-22). Os cristãos têm o dever inescapável de utilizar criteriosamente as coisas que DEUS criou com o propósito de dar-lhes vida, sustento e alegria.
Mas qual a responsabilidade do cristão com relação à ecologia?
Apenas para fundamentarmos a necessidade e urgência de uma crítica “cristã-teológica” com relação ao descaso com o meio ambiente citamos Gênesis 1.24-31 (NTLH)
A CRIAÇÃO DOS SERES VIVOS
21 Assim Deus criou os grandes monstros do mar, e todas as espécies de seres vivos que em grande quantidade se movem nas águas, e criou também todas as espécies de aves. E Deus viu que o que havia feito era bom.
22 Ele abençoou os seres vivos do mar e disse: —Aumentem muito em número e encham as águas dos mares! E que as aves se multipliquem na terra!
23 A noite passou, e veio a manhã. Esse foi o quinto dia.
24  Então Deus disse: —Que a terra produza todo tipo de animais: domésticos, selvagens e os que se arrastam pelo chão, cada um de acordo com a sua espécie! E assim aconteceu.
25  Deus fez os animais, cada um de acordo com a sua espécie: os animais domésticos, os selvagens e os que se arrastam pelo chão. E Deus viu que o que havia feito era bom.
26  Aí ele disse: —Agora vamos fazer os seres humanos, que serão como nós, que se parecerão conosco. Eles terão poder sobre os peixes, sobre as aves, sobre os animais domésticos e selvagens e sobre os animais que se arrastam pelo chão.
27  Assim Deus criou os seres humanos; ele os criou parecidos com Deus. Ele os criou homem e mulher
28  e os abençoou, dizendo: —Tenham muitos e muitos filhos; espalhem-se por toda a terra e a dominem. E tenham poder sobre os peixes do mar, sobre as aves que voam no ar e sobre os animais que se arrastam pelo chão.
29  Para vocês se alimentarem, eu lhes dou todas as plantas que produzem sementes e todas as árvores que dão frutas.
30  Mas, para todos os animais selvagens, para as aves e para os animais que se arrastam pelo chão, dou capim e verduras como alimento. E assim aconteceu.
31  E Deus viu que tudo o que havia feito era muito bom. A noite passou, e veio a manhã. Esse foi o sexto dia.
Fica óbvio neste texto sagrado, que há um propósito claro, objetivo da harmonia e do desejo de DEUS que o homem dominasse e mantivesse a terra de forma que está lhe desse o próprio sustento.
Quando há abuso dos recursos naturais, utilizando-se do eco-sistema de forma com que ele fique desequilibrado e não possa mais fornecer a manutenção da vida, a humanidade peca e em pecado, ou seja, errando o alvo, entra em desacordo com o desejo de DEUS.
Entendo que a definição mais benquista para desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações.
É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro. Essa definição surgiu na Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada pelas Nações Unidas para discutir e propor meios de harmonizar dois objetivos: o desenvolvimento econômico e a conservação ambiental. Esse tipo de desenvolvimento tende a ser insustentável, pois leva ao esgotamento dos recursos naturais dos quais a humanidade depende. Os crescimentos econômicos e populacionais das últimas décadas têm sido marcados por disparidades. Embora os países do Hemisfério Norte possuam apenas um quinto da população do planeta, eles detêm quatro quintos dos rendimentos mundiais e consomem 70% da energia, 75% dos metais e 85% da produção de madeira mundial.
Consideremos três pontos:
1. A TERRA ESTÁ GEMENDO ENQUANTO A ALMA CONTINUA “BELA”: (Ec. 2.1-11)
A eco-teologia talvez seja a forma mais adequada de se fazer teologia em nosso tempo. O conceito de (eco-teologia) é relativamente novo. Surgiu nos últimos 25 anos, a partir de uma consciência de alguns teólogos, preocupados com o esgotamento dos recursos naturais, por conta da ganância humana.
Nesse sentido, a eco-teologia parece reunir subsídios convincentemente capazes de curar a visão estrábica da teologia tradicional que sempre procurou DEUS além ou fora da natureza. Isto é, sempre se preocupou com DEUS, longe, lá no céu, distante de sua criação.
Talves, nossos líderes no passado, tenham se esquecido da realidade atual e se concentraram para pregar apenas uma salvação no “outro mundo”. Isso leva o cristianismo atual a se distanciar de um importante cuidado com o eco-sistema e esta falha pode ter dado origem e de ter impulsionado um progresso com a sua atitude estúpida e suicidamente arrogante em relação ao meio ambiente.
Olhando o mesmo problema, mas focado no consumismo, a Igreja prega o Céu além da vida nesta Terra, o consumismo acena com o Céu na Terra – é o que prometem a publicidade, o turismo, o novo equipamento eletrônico, o banco, o cartão de crédito etc.
O nosso tempo moderno parece ironicamente, retroceder ao período da arte que pintava o grotesco. Há uma liturgia cúltica da (estética=beleza) (hedônica=ensina que o bem supremo da vida é o prazer) e (narcisística=encantamento com a própria beleza).  Busca-se, avidamente, a eternização do presente; multidões malham o corpo como quem sorve o elixir (efeito mágico) da juventude. Morreremos todos, porém, saudáveis e esbeltos.
De algum modo, fazemos leitura semelhante do texto de Ec 2.1-11. O autor descreve o período de sua vida em que buscava cegamente e a todo preço o “prazer da vida”. Mesmo que para isso tivesse que escravizar pessoas. O texto mostra a busca insana do prazer, e a qualquer custo. Procurou o prazer na bebida: v.3; no consumismo e na riqueza: v.4-7; na promiscuidade: v.8; na falta de amor e no individualismo: v.9-10. Infelizmente, esses ingredientes que juntos formam a base do hedonismo (prazer acima de tudo) ainda se fazem presente em nosso mundo moderno. Porém, em nosso tempo, a tecnologia chegou ao topo, com poder de agredir e explorar a terra de forma inimaginável. É por isso que não se dá para acreditar nesses tais “projetos de desenvolvimento sustentável”, até porque, quem os faz não tem interesse algum de abdicar-se do luxo e do aparato “tecnologicamente correto”. Portanto, ao meu modo de ver, a única forma para se falar de desenvolvimento sustentável a luz da Bíblia, deve ser a partir da consciência cristã de que devemos todos “frear radicalmente o nosso ímpeto consumista”. Até porque, o autor de Eclesiastes nos ensina que depois de experimentar tudo isso, chegou à conclusão de que tudo era ilusão.
2. O CRER NA PROVIDÊNCIA É MARCA CARACTERÍSTICA DA VIDA CRISTÃ: (Mt. 6.25-34)
É comum encontrar crentes em nossas igrejas que conheçam o texto de Mt 6.25-34; muitos de nós até decoram e recitam poeticamente este texto. Porém, é também comum perceber que quase todos nós temos dificuldades para aplicá-lo na prática da vida cristã. Isto é sinal de que, apesar de nossa tradição reformada, que tanto ensina sobre a providência divina, na maioria das vezes nos vemos correndo ansiosamente pelos recursos materiais. A bem da verdade nós andamos ansiosos o tempo todo porque queremos satisfazer nossos desejos de consumo. Criamos a todo momento “necessidades”, que quase sempre, são banais.
Contudo, conscientes ou não, voluntários ou não, satisfeitos ou não, teremos de rever nossa relação com o cosmos, especialmente, com a nossa casa (O Planeta Terra). O teólogo Leonardo Boff compara nosso tempo à figura de uma nave espacial em pleno vôo. Para ele, essa nave tem recursos limitados de combustível, de alimentos e de tempo de transcurso. 1% dos passageiros viaja na primeira classe com superabundância de meios de vida. 4% na classe econômica com recursos abundantes. Os 95% restantes estão juntos às bagagens no frio e na necessidade. Pouco importa a situação social e econômica dos passageiros. Todos correm ameaça de morte pelo esgotamento dos recursos da nave. Todos terão o mesmo destino dramático: ricos, remediados e pobres, caso não haja um acordo de sobrevivência para todos indistintamente. Desta vez não há uma arca de Noé que salve alguns e deixe perecer os demais.
Assim, a eco-teologia assume o caráter de urgência e contemporaneidade, sugerindo-nos a necessidade de se fazer teologia a partir de um novo modelo, ou, um novo objeto, que a rigor, deve ser a terra; ou seja, precisamos lembrar de que DEUS está presente também na natureza. Aliás, essa é exatamente a mensagem de muitos salmos, mostrando que DEUS se faz presente em toda a natureza (Sl 19). Não podemos mais, face à irrupção da morte de nossa mãe terra e consequentemente de todos nós, perpetuarmos a atitude reticente de passividade. Ou, como diz a música de Zé Geraldo: tudo isso acontecendo e eu aqui na praça, dando milho aos pombos. É tempo de decisão! Paulatinamente isso vem ocorrendo. Muitas vozes somam hoje imenso clamor, alcançando já espaços públicos com manifestações populares. Críticas e culpados ecoam por todo lado. Calcula-se que os 13 países mais industrializados produzam 80% de toda poluição mundial.
Contudo, já está superada a fase de encontrar culpados pela degradação da natureza. É verdade que os vilões da natureza são os mega-produtores de bens e serviços; mas, eles não teriam necessidade de produzir tanto se não houvesse demanda. Precisamos reconhecer que estamos todos contaminados pelo vírus do consumismo.
3. CRER NA SALVAÇÃO É CRER NA REDENÇÃO DE TODAS AS COISAS: (CL 1.13-20)
É fundamentalmente bíblico o ensino de que a salvação proposta em Jesus Cristo não visa apenas a alma humana. O texto de Cl 1.13-20 mostra claramente que a salvação em Cristo alcançará até mesmo as regiões celestiais, ou cósmicas. Outro texto do Apóstolo Paulo que evidencia esse ensino é o de Rm 8.19-23. Há ainda a profecia do Novo Céu e na Nova Terra, anunciada por Isaías 65.17-25; e ainda o mesmo sentido repetido em Ap 21.1-8. É nesse sentido que a eco-teologia encontra seu espaço em nosso tempo. O conceito bíblico-teológico da redenção se mostra como relevante objeto de releitura, na tentativa de olhar a salvação proposta em Jesus Cristo muito mais além do que salvação espiritual ou i-material. A redução moderna da salvação à bem-aventurança da alma ou à genuinidade da existência humana entregou a natureza inconscientemente à desordenada exploração. Ao anunciar o Cristo (Cósmico=que redime todas as coisas), o poder redentor não atinge apenas a mente e a moralidade humana, mas toda a natureza; do mesmo modo como a história, também a natureza é “palco da graça e espaço da redenção”.
É nesse sentido que o conceito de redenção cósmica se mostra tão atual. De uma vez por todas ele tanto destrói o doentio modelo platônico de salvação da alma apenas, quanto promove a idéia do novo Céu e da nova Terra. O fundamento absoluto de nossa fé cristã está da doutrina da morte e da ressurreição em glória, mas também corporal de Jesus.
DEUS não seria o criador de todas as coisas se não quisesse a redenção de todas as coisas. Segundo ele, a visão da redenção cósmica por meio de Cristo, portanto, não é uma especulação, mas surge de forma lógica da cristologia e da antropologia. Se faltassem esses horizontes, o DEUS de Jesus Cristo não seria criador do mundo e a redenção se tornaria mito gnóstico de ódio ao corpo e ao mundo.
Ao contrário do que muitos pensam essa releitura não significa diminuir o atributo criador e redentor de DEUS; ao contrário, é afirmá-lo ainda mais, porém, dentro de um novo espectro. Desta forma, parece-me que a tarefa mais humilde da eco-teologia deva ser a de trazer Deus de volta para a natureza; é isso que poderíamos chamar de (panenteísmo=Deus criou tudo e se faz presente em toda a sua criação); ou, a criação é o teatro da glória de DEUS. Deste modo, o olhar místico, contemplativo e admirável para a natureza, obra das mãos do criador, deve causar em nós a integração entre todas as formas de vida com o cosmos. Certamente essa atitude pacífica entre humanos e natureza, freará o nosso desejo ávido de “consumir”.
Considerações finais:
Portanto, enquanto esperamos pelo cumprimento profético do novo Céu e da nova Terra, que tal voltarmos nossos desejos para as coisas simples e prazerosas da vida ingênua? 

Pr. Renato Alves Neves
Bibliografia:
·          RUBIO, Alfonso García. Unidade na Pluralidade. São Paulo, Paulinas, 1989
·          BETO, Frei. In: Mysterium Creationis. São Paulo, Paulinas/Soter, 1999, Artigo: Espiritualidade holística
·          BOFF, Leonardo. In: Sarça Ardente. São Paulo, Paulinas/Soter, 2000, artigo: O pobre, a nova cosmologia e a libertação – como enriquecer a Teologia da Libertação.
·          BOFF, Leonardo. ECOLOGIA, grito da terra, grito dos pobres. São Paulo, Ática, 1995
·          MOLTMANN, J. O Caminho de Jesus Cristo. Petrópolis, Vozes, 1994